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A história da dieta cetogênica no tratamento da epilepsia

Dieta cetogenica

A dieta cetogênica foi desenvolvida no início da década de 1920 para crianças epilépticas e caiu em desuso nas décadas de 70 e 80 com a introdução de tratamentos medicamentosos para epilepsia. Entretanto, podemos traçar sua história até mesmo na Bíblia, na cura do rapaz endemoniado. A dificuldade de se manter o rigor na dieta, a falta de compreensão ampla da maneira de atuação da dieta na epilepsia e o apelo comercial medicamentoso direcionou o mercado para drogas de acesso mais simples. Os medicamentos tinham a teoria da fisiopatologia bem explicada, pelo menos do ponto de vista teórico, e isso era confortável ao prescritor. Apesar disso, em 1996, houve o ressurgimento do prestígio da dieta com a Associação Americana de Epilepsia.

Atualmente, mesmo com novos medicamentos, sabe-se que a cetose induzida pela dieta cetogênica pode ser mais eficaz que muitas drogas ainda em uso. A dieta causou um impacto nas crises epilépticas de difícil controle, abrindo caminho para o estudo da cetose em outras situações médicas. Novos conhecimentos no mecanismo de atuação permitiram um melhor entendimento do metabolismo cerebral e, assim, do controle da epilepsia.

Na década de 20, o tratamento com bromidas e fenobarbital eram incapacitantes, com alto efeito sedativo. Hugh Conklin acreditava que a epilepsia ocorria por substâncias tóxicas no cérebro provenientes do intestino. Ele postulou que colocando o intestino em descanso, diminuiria a intoxicação, e acabou introduzindo o jejum alimentar por 25 dias como tratamento. Nesse momento, ele privava as crianças dos alimentos, de todo e qualquer alimento, permitindo apenas água. Em 1922, ele mostrou um alto índice de remissão, com muitas crianças livres de episódios epilépticos por longos períodos. Seu êxito foi propagado antes mesmo da publicação científica oficial. Era uma esperança que levou à grande quantidade de investigações no mecanismo de funcionamento e inter-relação no metabolismo da gordura, proteína e carboidrato. Na época, os corpos cetônicos causados pelo jejum foram identificados como resultado imediato da oxidação dos ácidos graxos na ausência da glicose, e, postulou-se que tinham efeitos anticonvulsivantes.

Embora o jejum prolongado fosse extremamente difícil para epilépticos graves, ainda era considerado muito melhor do que episódios frequentes de eventos. Em 1921, na Mayo Clinic, foi publicado, por Wilder, o primeiro artigo sobre a dieta com alta gordura e baixa em carboidratos. Uma dieta que provia proteína para o crescimento, mínimo carboidrato e o restante em gorduras. Essa dieta era muito próxima da cetogênica que temos hoje em dia. Com relatos e trabalhos subsequentes até 1938, quando surgiu o medicamento fenitoína, e, a partir de então, a atenção acadêmica foi desviada para a ação dos novos químicos anticonvulsivantes. Nos anos seguintes, com a diminuição da atenção à dieta e o foco nos medicamentos, a dieta foi gradualmente esquecida e a habilidade em aplicá-la na prática foi perdida. Os nutricionistas eram menos requisitados para aplicar a dieta. Afinal, era mais fácil prescrever um medicamento do que instituir uma dieta restritiva e difícil na época, com necessidade de rigor e comprometimento do paciente e familiares. Com o passar do tempo, houve a perda da habilidade prescritiva da dieta pelos profissionais e passou a ser, muitas vezes, aplicada de forma errada e ineficaz, com resultados frustrantes. O conhecimento e habilidade adquiridos no início da revolução foi perdido. Com a inabilidade, uma geração inteira viu e propagou a dieta como difícil de tolerar e incapaz de trazer bons resultados. No entanto, no final da década de 80, percebeu-se que quando bem aplicada, em casos graves, a taxa de êxito da dieta era tão boa quanto a descrição original. No famoso hospital Johns Hopkins, na década de 90, a dieta era aplicada em aproximadamente 10 crianças por ano. Com o aparecimento na mídia, sobre o tratamento de algumas pessoas ilustres, houve maior conscientização do problema. O surgimento de fundações com o intuito de divulgar a técnica e até mesmo por meio de filmes, como “Pela vida do meu filho” (First do no harm) com a Meryl Streep em 1997, estimulou novamente os estudos e um grande trabalho multicêntrico foi apresentado em 1996 com 150 pacientes.

É realmente impressionante que algo com impacto tão positivo e descoberto há décadas tenha ficado no limbo científico por tanto tempo. Imagino que a falta de financiamento por grandes farmacêuticas, por razões óbvias, tenha encoberto essa ferramenta terapêutica nesse período. Mas não podemos desconsiderar a influência do mercado alimentício, ávido pela venda de carboidratos que promovem efeito neuroquímico de vício alimentar.

Do ponto de vista da globalização, a dieta cetogênica demorou para alcançar o mundo, provavelmente por questões culturais, financeiras e religiosas.

Com o passar dos anos e melhor entendimento do metabolismo, pequenas mudanças e evoluções na ideia inicial trouxeram maior eficácia, simplicidade, ampliando as perspectivas do uso da dieta. Estudos recentes mostraram que não há a necessidade do jejum inicial, podendo assim ser iniciadas com a quantidade de normais calorias. Isso significa que não é necessária a internação hospitalar para iniciar a dieta, como era feito inicialmente, mesmo em crianças. Apesar de todos os avanços na compreensão de boa parte da fisiologia, até hoje não se entende por completo o mecanismo pelo qual a dieta cetogênica atua como anticonvulsivante.

 

Bibliografia:

  1. Amato ACM. Dieta Cetogênica Estratégica: transforme gordura em energia. 1st ed. São Paulo: Amato – Instituto de Medicina Avançada, 2022.

 

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